6 de dezembro de 2011

À revelia

Uma coisa me incomoda:
o meu coração batendo!
Bate, bate e inventa moda
sem saber se estou querendo!

Coração, misericórdia!
Não percebes minha dor?
Minha vida é uma mixórdia
e tens culpa, sim, Senhor!

És culpado por quereres
mais do que mereces ter,
e culpado por haveres
insistido no querer!

Bates, bates, queres, queres
sem pensar e à revelia!
Bates, bates, feres, feres
- Coração, desiste e esfria!

28 de novembro de 2011

À distância

A semente que plantaste
no meu peito germinou...
...mas se não se interessaste
pelo fruto - a quem o dou?

Tenho sonhos e quimeras
semeados em meu peito
- quem me deras, quem me deras
do teu peito eu ser o eleito!

Mas se eleito não me queres
em teu peito impenetrável,
posso amar-te, se quiseres,
à distância razoável:

a distância das estrelas
não me impede de saber
que, apesar de nunca tê-las,
vê-las basta ao meu viver!

31 de outubro de 2011

Adeus

É preciso que eu me lembre
tanto quanto for possível:
desde o pé fora do ventre
todo o tempo foi sofrível.

Os amores renegados,
o dinheiro curto e pouco,
os trabalhos desalmados
e a má fama de ser louco.

E por isso uma tristeza
sempre perto e junto a mim
- sempre junto à gentileza
dos que querem o meu fim.

Oh! pessoas que notaram
os tristonhos olhos meus
e tampouco se importaram
- digo adeus, adeus, adeus.

Oh! pessoas que fizeram
do meu pranto os risos seus
e tão triste me quiseram
- digo adeus, adeus, adeus.

Adeus homens! Conseguiram
colocar-me contra Deus!
Faço agora o que pediram...
...deixo apenas esse adeus.

30 de outubro de 2011

A sua amizade

Eu não sei por qual motivo
permaneço firme e forte
ao seu lado e ainda vivo
se você me leva à morte:

não lhe ter é quase ser
um cadáver, um defunto
- preferível, então, morrer
e encerrar de vez o assunto.

Eu não sei se você sabe:
você tem meu coração.
Devo, agora, ver se cabe
esse amor em um caixão?

Eu pergunto, me desculpa,
pois não sinto que me queira...
...resta, então, não sinta culpa,
dar-me à morte verdadeira.

Se os meus olhos não conseguem
junto aos seus firmarem laços,
peço aos deuses que me ceguem
e fim ponham aos meus passos!

Nada, nada vale à pena
se não vamos ficar juntos!
Quero, então, sair de cena
- ser amigo de defuntos.

A chuva

A chuva que cai
nos carros da rua
apenas distrai
- mas nunca atenua -

os meus pensamentos,
os meus sentimentos,
os meus sofrimentos.

Quem sabe chovesse
nos meus sentimentos
e a chuva entendesse
de padecimentos!

À chuva eu diria
- socorro, socorro!
Não passa um só dia
que aos poucos não morro!


Oh! Chuva bendita
que cai sobre as flores,
escuta e acredita:
sou feito de dores!

Oh! Chuva partida
em gotas e gotas,
minh'alma maldita
de pérolas rotas
deseja deixar-se
em queda final
e, assim, acabar-se
feito um temporal
que faz da tormenta
de ventos mais águas
a voz por qual tenta
matar suas mágoas!

10 de abril de 2011

Misérias

Quanto mais eu penso e penso,
mais eu sinto, sinto e sinto
que pensando não convenço,
que pensando minto e minto.

Quanto mais eu falo e falo,
mais eu minto, minto e minto
- e mentindo eu mesmo calo
o que sinto, sinto e sinto.

As misérias que carrego
há bons tempos as possuo.
Só não sei se assumo ou nego
que com elas pactuo.

São misérias, todos sabem,
todos delas têm notícias...
...só não sei como me cabem
- se são dores ou delícias.

Ah... misérias que carrego
sem aceite e nem protesto...
...tens os olhos desse cego
- mais ainda: tens o resto!