31 de outubro de 2011

Adeus

É preciso que eu me lembre
tanto quanto for possível:
desde o pé fora do ventre
todo o tempo foi sofrível.

Os amores renegados,
o dinheiro curto e pouco,
os trabalhos desalmados
e a má fama de ser louco.

E por isso uma tristeza
sempre perto e junto a mim
- sempre junto à gentileza
dos que querem o meu fim.

Oh! pessoas que notaram
os tristonhos olhos meus
e tampouco se importaram
- digo adeus, adeus, adeus.

Oh! pessoas que fizeram
do meu pranto os risos seus
e tão triste me quiseram
- digo adeus, adeus, adeus.

Adeus homens! Conseguiram
colocar-me contra Deus!
Faço agora o que pediram...
...deixo apenas esse adeus.

30 de outubro de 2011

A sua amizade

Eu não sei por qual motivo
permaneço firme e forte
ao seu lado e ainda vivo
se você me leva à morte:

não lhe ter é quase ser
um cadáver, um defunto
- preferível, então, morrer
e encerrar de vez o assunto.

Eu não sei se você sabe:
você tem meu coração.
Devo, agora, ver se cabe
esse amor em um caixão?

Eu pergunto, me desculpa,
pois não sinto que me queira...
...resta, então, não sinta culpa,
dar-me à morte verdadeira.

Se os meus olhos não conseguem
junto aos seus firmarem laços,
peço aos deuses que me ceguem
e fim ponham aos meus passos!

Nada, nada vale à pena
se não vamos ficar juntos!
Quero, então, sair de cena
- ser amigo de defuntos.

A chuva

A chuva que cai
nos carros da rua
apenas distrai
- mas nunca atenua -

os meus pensamentos,
os meus sentimentos,
os meus sofrimentos.

Quem sabe chovesse
nos meus sentimentos
e a chuva entendesse
de padecimentos!

À chuva eu diria
- socorro, socorro!
Não passa um só dia
que aos poucos não morro!


Oh! Chuva bendita
que cai sobre as flores,
escuta e acredita:
sou feito de dores!

Oh! Chuva partida
em gotas e gotas,
minh'alma maldita
de pérolas rotas
deseja deixar-se
em queda final
e, assim, acabar-se
feito um temporal
que faz da tormenta
de ventos mais águas
a voz por qual tenta
matar suas mágoas!