23 de julho de 2009

O teu silêncio

Não gosto do teu silêncio
como quem pilota aviões não gosta de turbinas silentes.
Não gosto do teu silêncio
como quem adora vulcões, trovões, tempestades
não gosta
- odeia -
a lenta
- e inaudível -
descida das plumas, das penas, dos flocos de neve.
Não gosto do teu silêncio
como quem se apavora com a onipresença
inexpugnável
do absurdo, absoluto, do silêncio do óbito.
Não gosto do teu silêncio
como quem,
em pé,
não tem os pés,
deitado,
não tem as costas,
respirando,
não tem o ar,
olhando,
não tem a luz.

Não gosto do teu silêncio
como quem dorme e as pálpebras não encerram o ato.

Não gosto do teu silêncio.
Não gosto do teu silêncio,
e não sei repetir esse som de silêncio,
esse dom do silêncio,
esse tom de silêncio.

Teu silêncio me entope, me entulha, me enfarta
- me dana, me engana e me dói.

Como me dana.
Como me engana.
Como me dói.

3 comentários:

Curtt disse...

Antes de tudo e de todos, havia o silêncio. Mas era outro o silêncio, não o silêncio do outro. Este (não aquele) é o que lhe incomoda a vida, poeta.

Abraços.

Marcelino disse...

A 1ª estrofe está absurdamente linda. Excelente o teu texto, Leonardo: as turbinas silentes, os flocos de neve, os trovões, tudo, enfim! Parabéns e continue nos brindndo com textos desse nível.

Victor Belafonte disse...

"Não gosto do teu silêncio, /e não sei repetir esse som de silêncio, /esse dom do silêncio, /esse tom de silêncio."

O texto por inteiro é brilhante, mas essa parte realmente me chamou a atenção. Parabéns! Abraços.