31 de agosto de 2009

Se eu pudesse

Se eu pudesse, se eu pudesse arrancaria
do meu jeito, do meu peito o coração
que bombeia pelas veias energia,
mas me rouba a luz - tão pouca! - da razão.

Ah, razão, razão, razão tão pequenina,
somos nós, apenas nós, que situação...
...nada somos, nem dispomos, oh, menina,
contra a voz daquele algoz - o coração!

Coração, por qual razão bates assim?
Não te agrada em nada, nada, a minha paz?
Por que pisas - martirizas! - tudo em mim?
O que queres? Por que feres quem te traz?

Coração, meu peito em vão tenta esquecer
as tristezas e as cruezas que me tomam...
...as torturas e as agruras que em meu ser
por efeito do teu jeito somam, somam!

Se eu pudesse, se eu pudesse, coração,
viveria e passaria sem teus dons!
Sem os saltos - sobressaltos! - da ilusão,
sem as dores, teus pendores e os teus sons!

16 de agosto de 2009

Espólios

Como dói meu coração,
nem consigo respirar
- sem você me falta o chão,
eu não posso caminhar.

Como sofro e me enfraqueço
se você não está por perto
- de você nunca me esqueço,
sem você nunca estou certo.

Não consigo imaginar
minha vida desse jeito:
sem você a me acompanhar,
sem seu colo, sem seu peito!

(Ah tristeza, minha amiga,
faça a mim esse favor...
...diga à vida, essa inimiga,
que não vivo sem o amor
que me fez perder o rumo,
o juízo e toda a sorte;
que sem ele - afirmo e assumo -
eu prefiro a minha morte!)

Eu não posso, nem eu quero,
viver longe dos seus olhos;
sem você me desespero,
não sou mais do que os espólios,
não sou mais do que as migalhas
de uma vida sempre em erro...
...sem você visto as mortalhas
e me levo ao próprio enterro.

Mal no coração

O meu nome de batismo
deveria ser "A Dor"!
Mas me deram um eufemismo,
me chamaram de "Escritor".

Faço versos e poemas
tendo a dor como consorte,
como quem frente aos dilemas
falta forças para a morte!

Faço versos e poemas
como quem não tem escolha
e despeja seus problemas
todos, todos numa folha.

Faço versos, poesias,
como quem toma remédio
contra as noites, contra os dias,
contra um mal chamado tédio!

Ah, Senhor, quando puderes
dar um fim ao meu lamento,
faça como bem quiseres,
não vacile um só momento!

Eu nasci, fui condenado
à tristeza e ao sofrimento,
como um tolo, um desgraçado
sem fortuna e sem talento.

Nada mais me resta agora,
nem ao meu pobre destino
- a tristeza me namora,
sou assim desde menino.

Tudo e todos que conheço
não me deram solução
- reconheço, reconheço:
tenho um mal no coração!

E por isso tantos versos,
tantos versos, tanta dor
- versos sobre os meus reversos
e as angústias de escritor!

10 de agosto de 2009

O que mais eu tenho feito

O que mais eu tenho feito,
por virtude ou por defeito,
nesses meses como agosto,
por querer ou a contragosto,
é parar em cada canto
- tanto rindo, quanto em pranto -
e pensar na nossa história
de tristezas e de glória,
de certezas e de encontros,
e também de desencontros,
mas que é nossa e verdadeira,
em suas partes, por inteira,
no que tem de sofrimento
e também contentamento.

O que mais eu tenho feito,
como escravo do meu peito,
nesses meses como agosto
- veja as marcas no meu rosto -
é pensar na nossa história
(tenho tudo na memória
e também no coração)
desde quando com seu não,
eu senti dentro de mim
o universo dando um sim
aos meus planos - devaneios -
de morar dentro dos seios
de quem, com ou sem razão,
me roubasse o coração,
merecesse os meus esforços,
apagasse os meus remorsos,
desse luz a minha lida
e sentido a minha vida.

O que mais eu tenho feito,
por amor e por respeito
a você e a nossa história,
é querer que a palmatória
dê um jeito - solução! -
ao meu tolo coração,
para sempre e nesse agosto

- onde há tolos, tenho um posto -

por que não mais me é possível,
tenho sido tão sofrível,
já não posso mais com nada,
minha vida andava errada
e da mesma eu quase quis
desistir - mas não, não fiz -,
e por não ter desistido

- por você ter conhecido -

é que o mais que tenho feito,
com amor e do meu jeito,
nesse agosto, nesses meses,
quase sempre, várias vezes

(muito mais do que imagina
sua mente de menina
pura e ingênua como um anjo)

é dar jeito, dar arranjo,
ao desejo imensurável,
infinito e inexorável
de formarmos um casal,
invejável, imortal,
como nunca outro existira,
não importanto quem eu fira
ou machuque para tanto
(o meu rosto vive em pranto).

Entra agosto, passa agosto

- minha vida é só desgosto -,

sua distância me maltrata
e por mais que ainda bata
em meu peito um coração,
sem você fico sem chão,
o meu céu não tem estrelas,
e, se tem, não posso vê-las,
pois me sinto comprimido,
incompleto, combalido,
não existindo ao meu redor
nada para o meu melhor.

Só seus olhos me comandam

- onde estão, por onde andam? -

eu não posso mais sem eles,
tudo em mim, ou mais, é deles,
não consigo não revê-los,
fecho os olhos, posso vê-los,
e por isso eu lhe suplico
- ouça bem, eu não claudico:

volte, amor, para os meus braços,
volte, amor, a fazer laços,
mais correntes de nós dois
- e mais nada eu tenho pois
a pedir, senão, perdão,
mil perdões, mais um milhão
de perdões se preferir,

mas não queira mais partir!

Não me deixe ver a morte,
sem resposta, sem a sorte
de saber pela sua voz
que, você, também, por nós,
o que mais anda fazendo
é pedir - quase morrendo
de saudades de nós juntos -
que Jesus não tenha assuntos
mais prementes que nós dois,
que não deixe pra depois
os Seus planos de fazer
de nós dois um novo ser:

um ser pleno, indivisível,
belo, eterno e irreversível,
um ser mais do que perfeito
como o mais que Ele tem feito,
para quem O tem em mente,
por amor e simplesmente.

Um ser feito desse amor,
puro e livre dessa dor,
puro e livre dessa pena
que não cabe no poema...

...ouça, amor, meu bem, socorro!
Sem você não vivo, morro!
Sem você meu tempo jaz!
Sem você não tenho paz!

6 de agosto de 2009

Angústia

Nada, nada dói-me tanto,
tanto quanto o teu silêncio
(ninguém sabe do meu pranto,
eu não vivo sem um lenço).

Nada, nada dói-me mais
do que a dor por não te ver
(ninguém sabe dos meus ais,
não sei mais o que fazer).

Nada, nada me desgraça
tanto quanto o teu sumiço
(ninguém sabe o que se passa
no meu peito movediço).

Ah, motivo dos meus prantos,
dessa angústia, dessa dor
- ninguém sabe dos encantos
e tormentos desse amor!