26 de dezembro de 2009

Não passa

O tempo tem passado,
as chuvas têm caído,
os ventos têm soprado,
os homens têm morrido,
as guerras têm matado,
os cegos não têm visto,
os crentes têm rezado
e têm buscado Cristo,
os bichos têm voado,
os bichos têm corrido,
as coisas têm estado
e têm acontecido,
as luas têm mudado
e o sol aparecido,
as flores têm brotado,
os rios têm descido,
os fogos têm queimado
e às vezes aquecido,
os novos têm lembrado
e os velhos esquecido...
...só essa dor não passa,
só essa dor não passa.

19 de novembro de 2009

Mentem

A menina
que de preto passa
a minha frente e olha,
nem imagina
que os seus olhos mentem.

26 de outubro de 2009

Irrelevâncias

Por meio da vida,
e não de um poema,
que irei lhe mostrar
que todas as coisas
que existem no mundo

não têm importância,
não têm relevância,
não têm esperança

se estamos distantes
e se entre nós dois
colocam-se o mundo

e as desimportâncias,
as irrelevâncias
e desesperanças

que o amargam
e o escurecem.

24 de setembro de 2009

Pedras e pedreiros

Desculpem-me,
eu estou em construção.
Quem quiser pode
assentar alguma pedra
- mas saibam:
há pedras e pedreiros,
e disso,
e de mim,
depende a casa.

10 de setembro de 2009

Insignificância

Somente
quando perdi o meu sorriso
é que descobri a insignificância
de todos os sorrisos
que me levaram a perder
o teu sorriso.

31 de agosto de 2009

Se eu pudesse

Se eu pudesse, se eu pudesse arrancaria
do meu jeito, do meu peito o coração
que bombeia pelas veias energia,
mas me rouba a luz - tão pouca! - da razão.

Ah, razão, razão, razão tão pequenina,
somos nós, apenas nós, que situação...
...nada somos, nem dispomos, oh, menina,
contra a voz daquele algoz - o coração!

Coração, por qual razão bates assim?
Não te agrada em nada, nada, a minha paz?
Por que pisas - martirizas! - tudo em mim?
O que queres? Por que feres quem te traz?

Coração, meu peito em vão tenta esquecer
as tristezas e as cruezas que me tomam...
...as torturas e as agruras que em meu ser
por efeito do teu jeito somam, somam!

Se eu pudesse, se eu pudesse, coração,
viveria e passaria sem teus dons!
Sem os saltos - sobressaltos! - da ilusão,
sem as dores, teus pendores e os teus sons!

16 de agosto de 2009

Espólios

Como dói meu coração,
nem consigo respirar
- sem você me falta o chão,
eu não posso caminhar.

Como sofro e me enfraqueço
se você não está por perto
- de você nunca me esqueço,
sem você nunca estou certo.

Não consigo imaginar
minha vida desse jeito:
sem você a me acompanhar,
sem seu colo, sem seu peito!

(Ah tristeza, minha amiga,
faça a mim esse favor...
...diga à vida, essa inimiga,
que não vivo sem o amor
que me fez perder o rumo,
o juízo e toda a sorte;
que sem ele - afirmo e assumo -
eu prefiro a minha morte!)

Eu não posso, nem eu quero,
viver longe dos seus olhos;
sem você me desespero,
não sou mais do que os espólios,
não sou mais do que as migalhas
de uma vida sempre em erro...
...sem você visto as mortalhas
e me levo ao próprio enterro.

Mal no coração

O meu nome de batismo
deveria ser "A Dor"!
Mas me deram um eufemismo,
me chamaram de "Escritor".

Faço versos e poemas
tendo a dor como consorte,
como quem frente aos dilemas
falta forças para a morte!

Faço versos e poemas
como quem não tem escolha
e despeja seus problemas
todos, todos numa folha.

Faço versos, poesias,
como quem toma remédio
contra as noites, contra os dias,
contra um mal chamado tédio!

Ah, Senhor, quando puderes
dar um fim ao meu lamento,
faça como bem quiseres,
não vacile um só momento!

Eu nasci, fui condenado
à tristeza e ao sofrimento,
como um tolo, um desgraçado
sem fortuna e sem talento.

Nada mais me resta agora,
nem ao meu pobre destino
- a tristeza me namora,
sou assim desde menino.

Tudo e todos que conheço
não me deram solução
- reconheço, reconheço:
tenho um mal no coração!

E por isso tantos versos,
tantos versos, tanta dor
- versos sobre os meus reversos
e as angústias de escritor!

10 de agosto de 2009

O que mais eu tenho feito

O que mais eu tenho feito,
por virtude ou por defeito,
nesses meses como agosto,
por querer ou a contragosto,
é parar em cada canto
- tanto rindo, quanto em pranto -
e pensar na nossa história
de tristezas e de glória,
de certezas e de encontros,
e também de desencontros,
mas que é nossa e verdadeira,
em suas partes, por inteira,
no que tem de sofrimento
e também contentamento.

O que mais eu tenho feito,
como escravo do meu peito,
nesses meses como agosto
- veja as marcas no meu rosto -
é pensar na nossa história
(tenho tudo na memória
e também no coração)
desde quando com seu não,
eu senti dentro de mim
o universo dando um sim
aos meus planos - devaneios -
de morar dentro dos seios
de quem, com ou sem razão,
me roubasse o coração,
merecesse os meus esforços,
apagasse os meus remorsos,
desse luz a minha lida
e sentido a minha vida.

O que mais eu tenho feito,
por amor e por respeito
a você e a nossa história,
é querer que a palmatória
dê um jeito - solução! -
ao meu tolo coração,
para sempre e nesse agosto

- onde há tolos, tenho um posto -

por que não mais me é possível,
tenho sido tão sofrível,
já não posso mais com nada,
minha vida andava errada
e da mesma eu quase quis
desistir - mas não, não fiz -,
e por não ter desistido

- por você ter conhecido -

é que o mais que tenho feito,
com amor e do meu jeito,
nesse agosto, nesses meses,
quase sempre, várias vezes

(muito mais do que imagina
sua mente de menina
pura e ingênua como um anjo)

é dar jeito, dar arranjo,
ao desejo imensurável,
infinito e inexorável
de formarmos um casal,
invejável, imortal,
como nunca outro existira,
não importanto quem eu fira
ou machuque para tanto
(o meu rosto vive em pranto).

Entra agosto, passa agosto

- minha vida é só desgosto -,

sua distância me maltrata
e por mais que ainda bata
em meu peito um coração,
sem você fico sem chão,
o meu céu não tem estrelas,
e, se tem, não posso vê-las,
pois me sinto comprimido,
incompleto, combalido,
não existindo ao meu redor
nada para o meu melhor.

Só seus olhos me comandam

- onde estão, por onde andam? -

eu não posso mais sem eles,
tudo em mim, ou mais, é deles,
não consigo não revê-los,
fecho os olhos, posso vê-los,
e por isso eu lhe suplico
- ouça bem, eu não claudico:

volte, amor, para os meus braços,
volte, amor, a fazer laços,
mais correntes de nós dois
- e mais nada eu tenho pois
a pedir, senão, perdão,
mil perdões, mais um milhão
de perdões se preferir,

mas não queira mais partir!

Não me deixe ver a morte,
sem resposta, sem a sorte
de saber pela sua voz
que, você, também, por nós,
o que mais anda fazendo
é pedir - quase morrendo
de saudades de nós juntos -
que Jesus não tenha assuntos
mais prementes que nós dois,
que não deixe pra depois
os Seus planos de fazer
de nós dois um novo ser:

um ser pleno, indivisível,
belo, eterno e irreversível,
um ser mais do que perfeito
como o mais que Ele tem feito,
para quem O tem em mente,
por amor e simplesmente.

Um ser feito desse amor,
puro e livre dessa dor,
puro e livre dessa pena
que não cabe no poema...

...ouça, amor, meu bem, socorro!
Sem você não vivo, morro!
Sem você meu tempo jaz!
Sem você não tenho paz!

6 de agosto de 2009

Angústia

Nada, nada dói-me tanto,
tanto quanto o teu silêncio
(ninguém sabe do meu pranto,
eu não vivo sem um lenço).

Nada, nada dói-me mais
do que a dor por não te ver
(ninguém sabe dos meus ais,
não sei mais o que fazer).

Nada, nada me desgraça
tanto quanto o teu sumiço
(ninguém sabe o que se passa
no meu peito movediço).

Ah, motivo dos meus prantos,
dessa angústia, dessa dor
- ninguém sabe dos encantos
e tormentos desse amor!

23 de julho de 2009

O teu silêncio

Não gosto do teu silêncio
como quem pilota aviões não gosta de turbinas silentes.
Não gosto do teu silêncio
como quem adora vulcões, trovões, tempestades
não gosta
- odeia -
a lenta
- e inaudível -
descida das plumas, das penas, dos flocos de neve.
Não gosto do teu silêncio
como quem se apavora com a onipresença
inexpugnável
do absurdo, absoluto, do silêncio do óbito.
Não gosto do teu silêncio
como quem,
em pé,
não tem os pés,
deitado,
não tem as costas,
respirando,
não tem o ar,
olhando,
não tem a luz.

Não gosto do teu silêncio
como quem dorme e as pálpebras não encerram o ato.

Não gosto do teu silêncio.
Não gosto do teu silêncio,
e não sei repetir esse som de silêncio,
esse dom do silêncio,
esse tom de silêncio.

Teu silêncio me entope, me entulha, me enfarta
- me dana, me engana e me dói.

Como me dana.
Como me engana.
Como me dói.

6 de julho de 2009

Negue

Olhava-o com o desespero dos que não têm a coisa desejada e pensava em como sobreviver àquele homem. Negue o seu amor, o seu carinho, gritava desorientada e enraivecida, sentindo-se cada vez menos ouvida e, pior ainda, cada vez mais abandonada. Não conseguia compreendê-lo. O que teria acontecido? O que teria o incomodado? Não haveria outra saída? Perseguia-o pela cidade, procurava-o pelos lugares que um dia freqüentaram juntos, mas nunca o via, nunca o encontrava e não sabia como fazê-lo ouvi-la. Tinha apenas o seu retrato. Diga que você já me esqueceu, pedia à fotografia, como que em busca de uma esperança nunca perdida e ainda tida como possível, apesar de desesperada. Fotografia em mãos, analisava-a detalhe por detalhe, procurando penetrar-lhe e provocar-lhe alguma vida através da qual pudesse reencontrá-lo, tocar-lhe novamente e jogar-se em seus braços. Mas nem assim - nem mesmo assim - conseguia reconquistá-lo. Havia sido desenganada, abandonada e, sistematicamente, desprezada em todas as suas tentativas de reencontro e pedidos de consideração. Mas não o esquecia – e, por isso mesmo, pise, machucando com jeitinho esse coração que ainda é seu, vivia lhe dizendo em pensamento, chorando e sofrendo em uma angústia sem fim. Diga que o meu pranto é covardia, mas – dizia à foto, a ele, antevendo-lhe acusando-a de exageros e dramas injustificados – não se esqueça que você foi meu um dia. Tinha vontade de reencontrá-lo e sufocá-lo com os beijos e as mãos que, agora, alternavam entre a foto e as lágrimas. Tinha vontade de demonstrar-lhe a sua dor, o desespero de quem não sabia esquecê-lo e nem aos dias em que viviam juntos. Carregava a foto consigo e nunca a abandonava. Usava-a para se animar, como quem a si mesmo acalma apagando o fogo com mais incêndios. Não era fácil. A solidão a entristecia e o desamparo a castigava. A sua vida não lhe pertencia e o seu tempo era o tempo de sentir-se desgraçada, impotente e injustiçada. Suas dores eram cortes lancinantes e profundos sofridos sem perdão. Se pudesse encará-lo, se pudesse indagá-lo por mais uma vez, a milésima vez, não seria diferente? Não seria possível que houvesse mudado de idéia? Diga que já não me quer, negue que me pertenceu, suplicava, desesperada, desejando uma resposta que pudesse persuadi-la e conformá-la. E da foto ouvia, alucinada, acusações e acusações que ela mesma não deixava sem resposta: e eu mostro a boca molhada, e ainda marcada, pelo beijo seu...

13 de junho de 2009

Sim

Quando olho
para o céu,
para as nuvens,

as estrelas,

eu entendo
que as formas,
quaisquer formas são possíveis;
que desejos são possíveis,
que esperanças são possíveis;
que distâncias, inclusive,
também podem ser possíveis.
E por isso compreendo
que a vida é possível
com amores absurdos,
sonhos,
qualquer coisa que queiramos
- e então
eu lhe pergunto:
somos,
nós,
também possíveis?

17 de maio de 2009

Teria uma chance?

Acordava mais cedo para que pudesse vê-la a caminho da escola. Saía à porta de casa e observava atento a todos os movimentos da rua. Necessitava vê-la. Esse era, há muito, seu melhor motivo para levantar-se da cama. Posicionado, esperava pelo seu aparecimento, pelos seus calmos passos, pelo seu cabelo bailarino e seu olhar tranqüilo, despreocupado. Observava-a em cada detalhe. Com os olhos, acompanhava-a de uma esquina à outra pelo tempo de um brevíssimo minuto que guardava na memória pelo resto do dia. Era capaz de dizer o número de passos que ela dava para atravessar aquele abençoado espaço de uma esquina à outra. Sabia quando ela estava atrasada, quando estava em uma semana de provas; quando, denunciada pela maquiagem no rosto, saíra ou dormira na noite passada. Também sabia quando estava triste, feliz ou doente. Sabia muito sobre ela – pelo menos o que a observação lhe dizia. O resto imaginava. A sua idade, os seus desejos, os seus temores e pensamentos. Adorava o seu jeito e os seus lindos cabelos, os seus doces sorrisos e a maneira encantadora como andava. Há muito já havia se convencido de que não existia outra menina como aquela. Ela era um milagre. Um milagre para a sua vida e do qual não sabia o nome – o nome, de onde vinha, há quanto vinha, por quanto viria e se o notava. Certa manhã, após uma noite em que quase não dormira, resolveu observá-la um pouco mais cedo do que o de costume. Esperou-a na esquina em que sempre a encontrava. Satisfeitíssimo, quase não conseguiu conter a alegria em poder acompanhá-la por um tempo maior. Na manhã seguinte, manhã de uma noite quase toda passada em claro, esperou-a mais cedo ainda, antes mesmo da esquina em que a avistava pela primeira vez. Novos esforços para não se entregar. Nas manhãs que se sucederam, passou a esperá-la cada vez mais cedo. Esperava-a, entusiasmado, enfeitiçado por aquelas horas. Quase sempre, ao observá-la, pensava em perguntar-lhe o nome, se sabia que era um milagre e se o notara alguma vez. Mas nunca o fazia. Não conseguia pará-la, tocar-lhe o braço e dirigir-lhe a palavra – como mil vezes planejara e mil vezes desistira. Suspirava quando a via e perdia a coragem, reduzindo o seu mundo a minúsculos momentos entre esquinas e passos. Nunca a parava. Permanecia calado, apenas a observando e suspirando os ares de coragens esvaecidas. Um dia – um dia que não esperava e para o qual não havia se preparado – teve que trocar a covardia pelo desespero: deixou de encontrá-la. O que teria acontecido? O que teria a afastado? Haveria mudado? Haveria morrido? Como saberia? A quem perguntaria? Quem era? Como se chamava? Por que não falou com ela? Teria o notado? Teria uma chance? A veria novamente? Perguntas, angústias e questões que ficaram sem respostas. Não teve jeito, não houve como, teve que levá-las para o caixão.

3 de maio de 2009

Respeito

Respeito é amor.

2 de maio de 2009

Desorientação III

Às vezes, o desespero dá à pessoa a coragem que ela não tem.

29 de abril de 2009

Ignorância

A
ciência
acredita
que
do
nada,
nada
surge
- ai,
ciência
ignorante
que
não
sabe
o
que
é
saudade
do
amor
que
está
ausente.

26 de abril de 2009

Três estrelas

Tivesse,
o céu,
apenas
três estrelas,
para alguns ele estaria vazio.
Contudo,
há quem diga
que a beleza está nos olhos de quem vê
- e três estrelas,
eu diria,
podem ser o céu de alguém.

24 de abril de 2009

Desorientação II

Algumas decisões são bússolas voltadas para a depressão.

18 de abril de 2009

Desorientação

Alguns olhares são bússolas voltadas para a perdição. 

12 de abril de 2009

Ai, saudade

Há saudades tão pesadas,
tão pesadas que enlouquecem...
...nem remédios, nem estradas
- os meus olhos não te esquecem.

Há saudades tão doídas,
tão doídas que sepultam
(são saudades, são feridas
as que em mim, agora, avultam).

Ai, saudade de quem amo
e não tenho mais agora
- o teu nome chamo, chamo,
mas, em vão: tu foste embora.

Ai, saudade que me aperta,
contra a qual eu nada posso...
...a minh'alma está deserta,
desolada...que destroço!

7 de abril de 2009

Lição

A chuva,
que do céu cai,
não reclama quando lançada à Terra de inúmeras iniquidades.
Antes,
procura penetrar-lhe
na esperança de torná-la melhor.

31 de março de 2009

Também

A verdade só constrói,
não maltrata, não espezinha
(tudo, tudo o que me dói,
eu sei bem, a culpa é minha).

A verdade não destrói,
ela apenas encaminha
(tudo, tudo o que me dói,
eu sei bem, a culpa é minha).

A verdade não corrói,
tão somente ensina e alinha
(tudo, tudo o que me dói,
eu sei bem, a culpa é minha).

A verdade, como sói,
sempre ajuda, sempre aninha
(tudo, tudo o que me dói,
eu sei bem, a culpa é minha).

A verdade às vezes dói,
uma dor que não se tinha,
mas da dor surge um herói
- e, também, a culpa é minha.

23 de março de 2009

Tem razão

Tem razão quem me afronta,
tem razão quem me condena:
não está pronta, não está pronta
a minh'alma tão pequena.

Têm razão meus inimigos,
têm razão meus detratores:
a minh'alma tem amigos
e conhece apenas flores:

não conheço miseráveis,
não conheço a solidão;
tenho sonhos adoráveis
e uma vida de ilusão;

não conheço a fome e o frio,
o abandono e o desamor;
nunca me senti vazio,
não conheço o medo e a dor.

Tem razão quem me machuca,
quem me esnoba e quem me esquece:
quem o espírito não educa
passa a ter o que merece.

Tem razão quem me atormenta,
quem me enerva, quem me aflige...
...quem a dor não experimenta
nunca aprende e não corrige.

19 de março de 2009

Charme

Metade do charme de uma mulher está em seus olhos. A outra metade, nos olhos de quem a vê.

26 de fevereiro de 2009

Um pensamento

Todas as vezes que me deito em minha cama,
eu fecho os olhos e me vem um pensamento;
um pensamento poderoso e que me inflama
tal como o sol inflama os céus, o firmamento:

Estou, Senhor, fazendo jus ao Teu amor?
Fazendo tudo o que consigo e deveria
para ajudar aos que tem fome, sede e dor,
como o Senhor, por ser Amor, por mim faria?


Estou, Senhor, fazendo jus ao Teu amor?
Usando o tempo que me destes para o bem?
Reconhecendo o que na vida tem valor
e procurando a fé levar aos que não têm?


Estou, Senhor, ao Teu amor fazendo jus?
Reconhecendo a minha imensa ignorância?
Reconhecendo que o Teu nome é como luz,
que é toda a luz!, que é luz!, que é luz!, e em abundância?

Senhor, eu sei que sou pequeno e desprezível,
imenso apenas em orgulho, em egoísmo;
que sou também de uma vaidade intraduzível
e que carrego a essência torpe do cinismo.

Senhor, eu sei que Tu viestes dar o exemplo
- o próprio corpo oferecestes ao tormento!
Será que faço do meu corpo um vivo templo
em que habitas o Teu santo ensinamento?

Eu sei, Tu sabes, que sou fraco, melindroso,
intransigente, preguiçoso, inconsequente;
acomodado, indiferente, rancoroso,
ganancioso, irracional, maledicente!

Como, meu Deus, posso ser digno do amor
que no Senhor é a régua própria do infinito?
Responda, Amor, eu faço jus ao teu Senhor?
(talvez a Dor saiba dizer, mas sempre a evito!)

Todas as vezes que me deito em minha cama,
eu fecho os olhos e coloco-me a pensar:
Senhor, Senhor, a consciência já me chama...
...não faço jus, não faço jus...preciso amar!

25 de fevereiro de 2009

As tuas coisas

É a intenção com que lidas com as tuas coisas que as tornam especiais.

Irreversível

Nem as botas dos soldados alemães,
em França,
nem as botas do astronauta americano,
na lua,
fizeram o tempo parar.
Esse,
senhor do senhor do senhor dos senhores,
não sabe o que é bom,
não sabe o que é mal,
não sabe o que é belo,
amável ou repugnante.
Sabe,
apenas,
soberba e soberanamente,
que todas as coisas
- inexoravelmente -
ocorrem como

prenúncio,
preâmbulo,
prelúdio

do único e inevitável fim a que tudo se dirige:
a divinização do homem.

20 de fevereiro de 2009

Sabes, sabes, sabes

Sabes, sabes, sabes!
Sabes, sabes bem:
tudo o que em mim cabe
é meu e teu também.

Olhos, sentimentos,
alma e coração;
tens meus pensamentos,
tens minha razão.

Tudo o que em mim cabe,
quase nada é meu...
...sabes, sabes, sabes:
tudo, tudo é teu!

Sabes, sabes, sabes!
Sabes, sabes sim:
tudo o que em mim cabe
é teu, só teu e fim.

9 de fevereiro de 2009

(Des)importância

Por mais que eu me esforce,
pesquise ou pergunte,
não hei de encontrar
a exata palavra
que melhor defina
a minha infinita,
imensa e impensável,
escassa importância
no arranjo eterno,
perfeito e real,
das coisas que há
- embora eu possua,
em meu pensamento,
total importância
e todo o valor
que eu mesmo me dou.

7 de fevereiro de 2009

Quantas, quantas vezes, quantas?

Vigiar o telefone
não comer, não sentir fome
não saber o que fazer

Escrever o tempo inteiro
abraçar o travesseiro
todos, todos esquecer

Ter as mãos abobalhadas
as idéias bagunçadas
o pensar desconcertado

Ai Senhor! Por que deixaste
tal perigo acontecer-me?
Por acaso não lembraste
que pedi para esquecer-me?

Quantas? Quantas vezes? Quantas?
Machuquei-me o coração?
Tantas! Tantas vezes! Tantas!
Por que mais uma ilusão?

Não dormir, nem trabalhar,
ver o tempo rastejar
sem que nada me aconteça

Respirar só por suspiros,
por nos olhos luzes, brilhos...
...não ter nada na cabeça...

Ai Senhor! Por que deixaste?
Por acaso não lembraste
que pedi para esquecer-me?

Tantas! Tantas vezes! Tantas!
Quantas? Quantas vezes? Quantas
já pedi para esquecer-me?

2 de fevereiro de 2009

Após você

Mesmo que Deus todo o meu sangue envenenasse
e assim secasse todo, e enfim, meu coração,
e me dissesse - “Viveria se parasse” -
eu Lhe diria - “Meu Senhor, Te digo não”.

Mesmo que Deus aponte a mim a mão da Morte
e da Desgraça se Sua voz desobedeço,
me faço surdo, cego os olhos, perco a sorte,
mas não te esqueço, não te esqueço, não te esqueço!

Mesmo que Deus me condenasse ao mal eterno
e me fizesse prisioneiro de outras chamas,
as labaredas, eu diria, de outro inferno,
não são tão quentes como o peito de quem ama!

Mesmo que Deus desse-me vida fora desta
caso eu quisesse e se eu pudesse te esquecer,
nessa outra vida - não tão longe do que resta -
eu passaria, morreria sem viver:

não existe vida se não vive-se ao teu lado,
não existe tempo que me faça te esquecer,
não existe nada que do nada foi criado,
não existe vida para mim após você.

1 de fevereiro de 2009

Freud explica

Do útero de minha mãe direto para o seu seio - apenas Freud compreende o bem que você me faz.

Ainda sobre a saudade

Saudade é um perfume
- passado -
na alma.

16 de janeiro de 2009

Saudade

Comecei
a escrever
um
poema
sobre a saudade
quando você
me disse
"adeus".

Como o terminarei?
Quando o terminarei?

5 de janeiro de 2009

O significado da palavra 'gratidão'.

Gratidão. [Do lat. gratitudine] S. f. 1. Qualidade de quem é grato. 2. Reconhecimento por um benefício recebido; agradecimento, reconhecimento.

Fonte: Dicionário Aurélio

2 de janeiro de 2009

Dois de janeiro

Aviso para quem estava esperando 2009 chegar para realizar um projeto, começar alguma coisa ou tomar uma decisão: os relógios já marcam 01:01 do dia dois de janeiro. Logo logo serão 02:02, 03:03, 04:04, 05:05 e você está esperando o quê? O tempo passar, o ano novo acabar??

Os significados das palavras 'perdoar' e 'perdoável'

Perdoar. [Do lat. perdonare.] V. t. d. 1. Desculpar, absolver, remitir (pena, culpa, dívida, etc.). 2. Poupar (...); (...)

Perdoável. [De perdoar + -ável.] Adj. 1. Merecedor ou suscetível de perdão.

Fonte: Dicionário Aurélio