16 de agosto de 2009

Mal no coração

O meu nome de batismo
deveria ser "A Dor"!
Mas me deram um eufemismo,
me chamaram de "Escritor".

Faço versos e poemas
tendo a dor como consorte,
como quem frente aos dilemas
falta forças para a morte!

Faço versos e poemas
como quem não tem escolha
e despeja seus problemas
todos, todos numa folha.

Faço versos, poesias,
como quem toma remédio
contra as noites, contra os dias,
contra um mal chamado tédio!

Ah, Senhor, quando puderes
dar um fim ao meu lamento,
faça como bem quiseres,
não vacile um só momento!

Eu nasci, fui condenado
à tristeza e ao sofrimento,
como um tolo, um desgraçado
sem fortuna e sem talento.

Nada mais me resta agora,
nem ao meu pobre destino
- a tristeza me namora,
sou assim desde menino.

Tudo e todos que conheço
não me deram solução
- reconheço, reconheço:
tenho um mal no coração!

E por isso tantos versos,
tantos versos, tanta dor
- versos sobre os meus reversos
e as angústias de escritor!

Um comentário:

Marcelino disse...

Muito bem, senhor romântico do mal-do-século, byroniano: "o poeta é um fingidor/ finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente", já dizia o moderníssimo Fernando Pessoa, e acho que cabe bem para dialogar com esses teus versos contemporâneos.