6 de abril de 2008

Escola

Era, na verdade, um aluno brilhante. Tímido, porém brilhante. Desde que entrara para a escola comportara-se como um pequeno gênio. Nunca faltara, nunca atrasara, nunca tirara uma nota ruim e nunca deixara de receber elogios de qualquer professor – fosse quem fosse. Era sempre lembrado nas reuniões de mestres e todos os pais citavam-no como exemplo de responsabilidade e seriedade. Tinha total controle sobre a utilização do seu tempo e cumpria a todas as tarefas que lhe passavam de forma correta e exemplar. Não perdia tempo, não desviava a atenção, não cometia erros e não perdia o ritmo nunca. Era, há anos, o primeiro da sala, o orgulho dos pais, o queridinho dos professores, a promessa da família e o modelo de filho para muitos e muitas. Um dia, entretanto, as coisas mudaram. Suas notas abaixaram e sua produtividade caiu. Todos que o conheciam ficaram preocupados. Pais, professores e até os psicólogos fizeram-se dezenas de perguntas na tentativa de entender o que teria acontecido. Estaria doente? Estaria com problemas? Teria cansado de ser o primeiro, de ser melhor? Teria brigado com os pais, com alguém? Teria a escola perdido a graça, perdido o encanto? Todas as possibilidades foram levantadas. Contudo, nenhuma resposta fora encontrada. Pais, mestres, psicólogos, pedagogos e até mesmo médicos não conseguiram descobrir o que havia acontecido. Sua já conhecida timidez havia piorado e de nada adiantava chamá-lo para conversar. Não respondia às perguntas. Não respondia, não se importava e não melhorava. Permaneceu em decadência até o dia em que se formou portando as piores notas da escola. Anos se passaram, milhares de novos alunos se formaram e nenhum outro o substituiu tanto nos melhores quanto nos piores momentos da sua vida de estudante. Continuou, para sempre, como o melhor, depois o pior, aluno da escola – assim como uma grande incógnita para todos que o conheceram e, uma vez, o admiraram. Uma grande incógnita, diziam. Até às vésperas da sua morte – anos e anos após a escola – a incógnita em que havia se transformado manteve-se inteira e sem sinal de resolução, sendo, entretanto, inesperada e repentinamente solucionada quando, um dia, em seus últimos momentos, uma explicação ofereceu a todos que o ouviram em suas últimas palavras:

- Chegou um dia e sentou-se a minha frente, entre eu e os professores. Tinha cabelos lindos e caíam sobre a minha mesa. Foi quando eu conheci o amor, disse isso a ela. Mas não me quis. Nunca me quis.

4 comentários:

Fred disse...

Que bom ler seus textos Leo. Abraço grande

Fred disse...

Que legal esse blog Léo, parabéns. Um grande abraço companheiro Vitruvino.

Anônimo disse...

Parabéns Léo.Como sempre,não perde a sensibilidade.Abraço.

Anônimo disse...

O mais interesante é a maneira como vc usa as palavras para espreçar as emoções.. fasendo com q o leitor (na minha cabeça) se indentifique e visualize a essencia da obra ..
parabenss!! seu blog eh muito gostozo de ler ...
abraços...