19 de março de 2008

Alma

Tinha um pensamento fixo: "nada é tão ruim que não possa ficar pior, nada é tão ruim que não possa ficar pior, nada é tão ruim que não possa ficar pior!". Seu desespero era gigantesco e tal pensamento era o que tinha de mais positivo em sua mente. Mas foi suficiente. Se nada era tão ruim que não pudesse ficar pior, pelo menos ainda não tinham tampado o poço fundo, escuro e frio no qual se encontrava. Isso seria pior. Para o bem ou para o mal, comprovou que possuía uma grande capacidade de relativização das coisas e, ainda que sentindo como era triste e lastimável a sua situação, conseguiu enxergar o lado bom das tragédias pessoais pelas quais estava passando. Até surpreendeu-se quando se pegou admirado com a vida e a sua incrível capacidade de reinvenção de si mesma, aquela estória de que quando Deus fecha uma porta, abre uma janela. Não sabia exatamente o que fazer e nem por onde começar, mas, se nada era tão ruim que não pudesse ficar pior, provavelmente nenhuma esperança era tão pequena que também não pudesse ficar maior. Assim, ainda que machucado e enfraquecido, às vezes revoltado, às vezes conformado, sentiu que mudanças importantes haviam começado a ocorrer em um lugar que somente o fundo do poço foi capaz de lhe mostrar: o seu interior, o seu próprio eu, a sua própria alma - a única e indestrutível janela com a qual poderia contar.

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