2 de março de 2008

Sobre o amor

- Faz muito tempo que não lhe vejo feliz assim! O que houve?
- Estou apaixonado...
- Sério?? Nunca lhe vi tão bem!
- O amor rejuvenesce...
- Quando não enlouquece, sim! Rejuvenesce, revitaliza e redireciona a vida das pessoas...
- Sim... É verdade! Sinto-me bem, feliz e cheio de planos!
- Interessante! Você está exultante! Fico feliz! Queria que o mesmo ocorresse comigo, mas não tenho mais idade para isso...
- E desde quando essas coisas da vida têm idades próprias para acontecer? Há algum Ministério do Amor com uma tabela indicativa das idades e horários propícios para alguém entrar em nossas vidas e roubar-nos o coração? Quando crianças também não éramos atingidos por paixões inesperadas que tiravam-nos o sono, atrapalhavam-nos as provas, levavam-nos ao choro e faziam-nos sonhar, cantar e escrever cartinhas e cartinhas de amor sem fim?
- Que eu me lembre, sim!
- Então! Não há uma regra! O que nos atinge cedo, também pode nos atingir tarde!
- Pode ser, pode ser...mas não me aconteceu.
- Você se permitiu? Aposto que não! Com esse papo de que não tem idade...
- (silêncio)
- A alma é uma espécie de casa...as janelas têm de estar abertas para a luz entrar...
- Como aconteceu com você?
- Bom...Eu estava vivo e, então, aconteceu!
- (risos) Compreendo...Faz sentido...
- Se para morrer basta estar vivo, para apaixonar-se não é diferente!
- É, faz sentido também! Mas...você não tem medo?
- Medo de quê? De morrer?
- Não! De apaixonar-se!
- E por que eu haveria de ter medo?!
- E se der errado?
- E se der certo?
- Mas as chances de dar errado são maiores...
- Quem pode dizer? Nem mesmo na matemática os resultados das operações correspondem sempre ao esperado...
- É verdade. Mas os erros das operações matemáticas não envolvem pessoas! Um número não pode machucar-se, sofrer, chorar...
- Óbvio! Mas também não sente solidão, carência, não se cansa de estar só e não tem opinião nenhuma sobre o fato de ser par, ímpar... Prefiro arriscar. Não sou um número e, se fosse, preferiria ser par!
- Entendo.
- Se der errado, não terá sido por falta de tentativa, de acreditar na minha sorte! Além disso, se der errado, não acredito que será algo capaz de me derrubar ao ponto de me tornar inválido para o resto da vida! E prefiro uma casa cheia de luz do que obscura e fria!
- Exagerei no meu medo...Desculpa.
- Tudo bem. Sei que sua preocupação é bem intencionada. Porém, lembre-se sempre de uma coisa: grandes projetos envolvem grandes riscos! E haverá projeto maior do que o amor?
- Fora pagar as contas, ter um emprego e viver com saúde...creio que não!
- (risos...) O amor é ainda maior, pois, sem ser por ele, para que ter contas, empregos e, principalmente, saúde?!?
- (silêncio novamente)
- Além disso, há outra coisa... Estou apaixonado! Completamente apaixonado...
- (sorriso) E muito, percebe-se!
- Mais do que todas as minhas outras vezes juntas! Juntas e multiplicadas!
- Como aconteceu? - assim, além de você estar vivo e tal...
- Não sei... Como eu disse, eu estava vivo e aconteceu! Quando notei, havia se passado um segundo entre eu pertencer somente a mim mesmo e, em seguida, pertencer à outra pessoa! Foi uma questão de olhar...
- Olhar?
- Sim (suspiro...) - Como assim olhar? Olhar outra pessoa?
- Não...de eu ter me apaixonado pelo olhar de uma pessoa...
- Pelo olhar?
- Sim, a princípio... Depois do olhar veio o sorriso. Depois do sorriso, o falar. Depois do falar, o pensar, e, quando dei por mim, a questão era o existir da pessoa!
- Nossa... Uma pessoa ou um anjo? (sorriso)
- Um anjo a que chamamos pessoa! Alguns segundos após...
- Mas nem tudo é felicidade...Apesar de estarmos apaixonados e certos do nosso amor, a família dela não aceita o nosso relacionamento. Ameaça até mudá-la de cidade...
- Por quê?!? - Diz que é por causa da nossa diferença de idade.
- De novo a questão da idade...
- Os homens só pensam em números... Tolos...
- E o que vocês pensam a respeito?
- Pensamos que nos amamos! Aliás, pensamos e sentimos, indubitavelmente!
- E pensam em resistir?
- Óbvio!!!
- Mas compensa o transtorno?
- Duas vezes óbvio! Um pelo o meu amor a ela e outro pelo amor dela a mim! Quem sabe o futuro nos dê outras obviedades!
- (silêncio)
- Não entendo essa preocupação com idades, tempos e momentos... Quantos gênios revelaram-se na infância e quantos outros somente no fim da vida? Quantas vezes a humanidade foi sacudida por fenômenos extraordinários e inesperados, sem sinais e sem avisos, e quantos outros ainda estão por ocorrer? Em relação aos dramas da existência humana, crianças podem ter respostas ou algo a nos ensinar tanto quanto adultos e velhinhos... E se doenças e desgraças não têm hora certa para acontecer, paixões e amores também não! Ou seja: não há regra!!!
- Mas são coisas bem diferentes entre si...
- Sim! Eu sei! Bem diferentes! Doenças e desgraças são coisas para serem lamentadas! Amores e paixões festejadas!Bem diferentes mesmo!
- (silêncio)
- (indignação)
- O que a família dela diz?
- Diz que a nossa diferença de idade é muito grande e que sou muito velho para ela!
- (curiosidade)
- 15 anos...Sou 15 anos mais velho... Nem é tanto assim!
- Sim...não são 30 ou 40 anos, mas já são alguns bons anos...
- E daí? Não é a diferença de idade entre duas pessoas que faz com que essas duas pessoas deixem de ser equilibradas, responsáveis ou capazes de discernir entre o certo e o errado! O que importa é a maturidade ou imaturidade delas! E uma coisa eu posso lhe garantir: ela é uma pessoa madura!
- Certeza?
- Certeza! Não lhe falei que depois do falar veio o pensar...?
- Falou.
- Então! A pessoa é um poço de maturidade! Maturidade e responsabilidade! Sabe exatamente o que quer, não faz nada que não queira, tem autocontrole, conhece os seus limites, respeita-os, faz-me respeitá-los e procura superá-los refletindo e dialogando, comigo e consigo mesma...
- Parece madura...
- E é! Sei o que estou dizendo e sei o que estou sentindo...
- Mas você não acha que, com essa diferença de idade, os mundos de vocês são bastante diferentes?
- Acho! E também acho que foi exatamente por isso que nos apaixonamos!
- Você não disse que foi por causa do olhar dela, no seu caso?
- Sim! Um olhar que só encontrei fora do meu mundo!
- (silêncio)
- Fora do meu mundo, meu mundo de tédio e rotina, velhas idéias e velhos objetivos, regras, mesmices e nenhuma alegria e pouquíssima emoção...
- (mais silêncio)
- Mas eu preciso lhe dizer que, mesmo que eu vivesse no melhor dos mundos, eu não conseguiria resistir àquele olhar e àquele existir extraordinário e mágico!
- Por quê?
- Por que, em toda a minha vida, em nenhum outro olhar eu percebi tanto brilho e tanta calma, tanta doçura e tanta honestidade, pureza e ingenuidade, tanta luz e tanta força... Em nenhum outro olhar percebi tanto amor e tanta fé, tanta meiguice e tanta paixão acumulada e preparada para, enfim, se libertar... Pode lhe parecer estranho, mas de alguma forma senti-me envolvido e penetrado por aquele olhar como nunca outro me envolvera e penetrara e, às vezes, não raras vezes, tive a sensação de que palavra alguma seria necessária para que com ele eu me entendesse... Como se eu estivesse a admirar o mais belo pôr-do-sol e, de repente, fosse ele que me contemplasse!
- (silêncio)
- (silêncio profundo) - Isso nunca me aconteceu...
- Não tem como eu lhe dizer o que é desejar abraçar o sol.
- (surpresa)
- (suspiros)
Quase um minuto após:
- O que você pensa em fazer?
- Vejamos se consegue me entender: creio piamente que a vida preparou-me tal situação! Como uma espécie de benção, fui agraciado por Deus com o advento desse amor há anos desejado e esperado - talvez por séculos! Portanto, sinto-me relativamente tranqüilo em relação ao futuro de todos esses acontecimentos... O universo pode estar me aplicando o maior dos seus golpes, mas minha alma conforta-se na sensação de que os arquitetos do destino encontraram a inspiração que lhes faltava para o grande projeto da minha vida! Acredito que algo muito maravilhoso está para me acontecer e aquele olhar me inspira isso. Nele tenho me encontrado e reconhecido meus caminhos, meus sentidos...
- Mas...e a família dela? - Como eu lhe disse, tenho a sensação de que a vida está cuidando disso. Não creio que nos encontramos por acaso! Mas, se assim foi e se o acaso é um Deus, não sinto que estejamos na situação de simples dados em suas mãos! Olhares existem e sempre existirão, mas a mesma gravidade que atrai os dados ao chão também determina a posição em que caem. Portanto, de qualquer forma, alguma coisa nos aproximou! Há uma força nos ligando!
- Apaixonados enxergam razão em tudo...
- Talvez apaixonados sejam os únicos que enxerguem!
- A paixão cega...
- Pode ser que sim! Mas entre a cegueira da paixão e a tirania da razão, prefiro a primeira! A essa altura da minha vida, antes cego e feliz do que convencional e angustiado! Além disso, minhas razões podem ser diferentes das razões de qualquer outra pessoa... Quem pode me dizer que a paixão não é a razão que necessito, considerando-se razão como motivo que necessito para ser feliz e me encontrar?
- (silêncio)
- Além disso, além do fato de me encontrar apaixonado - o que por si só já é motivo para eu desejá-la e não deixá-la -, não devo satisfação à ninguém. Sou livre! Sou livre e quero me prender somente a ela, somente a ela...
- Mas, pelo visto, ela não é livre como você...
- Já conversamos sobre isso e concluímos que, se ela não é livre hoje, amanhã será! A família dela não estará sempre presente em sua vida - um dia faltará. Ces't la vie. Não que desejemos isso ou esperemos por isso. Mas não temos tempo a perder e queremos viver esse amor acompanhando-o em seu crescimento! E, justamente pelo fato de que um dia ela encontrar-se-á totalmente livre, sabemos que nada poderá nos impedir! O futuro é promissor e, diária e mutuamente, nutrimo-nos de forças e esperanças! É só uma questão de tempo e paciência...
- Você quer dizer muuuuita paciência, né?
- Com certeza. Mas temos os nossos meios (quem não os tem?), nossas estratégias, nossos momentos, nossas válvulas de escape e nossas crenças - quando são os olhos da alma que enxergam o futuro, ele não parece tão distante! Ninguém entende melhor a questão da relatividade do tempo do que a alma, essa maratonista de eternidades!
- (reflexão)
- Existem sacrifícios que, frente às recompensas prometidas e esperadas, são desprezíveis, desprezíveis... Além disso, meu passado me encoraja a esperar por ela...
- Como assim?
- As dores que experimentei no passado - além daquele olhar que já lhe expliquei - dão-me força para acreditar que, finalmente, os meus sonhos virarão realidade!
- Não tinha que ser ao contrário? As dores do passado não deveriam desencorajá-lo, como se estivessem sempre a lhes dizer que nada vai ser diferente e que tudo vai dar errado?
- Compreendo, mas tenho algo a lhe dizer! As mesmas dores que me torturaram, me machucaram e me desiludiram, também me ensinaram alguma coisa! Se, durante um tempo, ocuparam o meu coração, também o amadureceram com a sua presença! Tornaram-no mais paciente, menos ansioso, mais compreensivo e tolerante! Isso também tem a ver com a minha pré-disposição em esperar pela felicidade...Na verdade, aprendi que a felicidade não se encontra na outra margem do rio. Atravessar ao rio é a felicidade! Nesse sentido, cada pontada de dor que senti em meu coração foi uma aula que a vida me deu. Passei por um verdadeiro curso, integral e intensivo, e, agora que a grande professora Dor se foi, sinto-me preparado para a verdadeira felicidade e percebo que o espaço, outrora ocupado por ela, nesse instante encontra-se preparado para ser preenchido pelos bons sentimentos da vida: a paixão, o amor...
- (reflexão profunda)
- Agora eu quero amar em paz e, já ouviu isso?, se o amor é por nós, quem será contra nós?
- Já...Mas, se você aprendeu tanta coisa com o seu passado, se saiu amadurecido e consciente de todas essas experiências, não seria mais coerente procurar alguém mais próximo a sua realidade?
- Amigo, estou seguro. Não sinto que algo me falte. Hoje tenho o que preciso - e mais do que isso: tenho o que sempre quis! Além disso, um amor não se procura...encontra-se! Vou sair por aí procurando pelo o quê? Por olhares envolventes e penetrantes, carregados de ternura e emoção? Quantas vezes poderei me enganar, me confundir e me iludir? Será difícil compreender que o natural é mais autêntico e verdadeiro, melhor do que o encomendado? Será difícil aceitar que a espontaneidade é o melhor terreno para os verdadeiros sentimentos? Será impossível compreender que, à cada segundo à espera de alguém mais próximo a minha realidade, eu posso estar perdendo a chance de mudar a minha realidade? O que o mundo me deu é tudo o que preciso para desenvolver a minha vida!
- E se a família dela radicalizar?
- Radicalizamos também!
- Como assim?
- Uma reação parecida com a dos cristãos na época da perseguição ao cristianismo, na Roma antiga... Quanto mais perseguidos eram, mais cristãos tornavam-se! A violência com que eram escorraçados fortalecia suas convicções, amadurecia as suas crenças e oxigenava a disposição que tinham para lutar por seus ideais!
- Mas isso não fará com que o relacionamento de vocês vire um palco de guerra? Como poderão cultivar esse amor em meio a um tiroteio por parte dos que o condenam?
- Da mesma forma que os cristãos o fizeram...não desistindo e conquistando aliados na medida que a todos convenciam de que o que sentiam era sincero e belo.
- Muito idealismo...
- Veja por esse lado: imagine se, os cristãos a que me referi, tivessem desistido das suas lutas. Imagine se tivessem abaixado suas cabeças e abandonado suas crenças em função do medo, da opressão e da desesperança... Imagine se tivessem abandonado seus sentimentos, negando o que tinham no coração e fazendo-se surdos aos apelos da alma. Imagine. Como viveriam? Como, à cada dia, levantar-se-iam de suas camas e encarariam as tarefas do dia e as cobranças da vida? Sentir-se-iam dispostos, vigorosos e animados? Como poderiam acreditar em novos sonhos ou novos ideais, tendo a alma a lamentar suas próprias fraquezas e não se esquecendo, como é de se compreender, o brilho do Deus a que amavam e a vitalidade das crenças a que devotavam suas vidas? Como cuidariam dos mínimos detalhes da existência tendo as mentes e corações a cobrar-lhes, exigir-lhes e a lembrar-lhes, permanentemente, a alegria e a segurança com que lutavam e resistiam à destruição dos seus mais caros valores e mais puros planos? Puríssimos planos? Como acreditariam em qualquer outra coisa, poderiam manter abertas as janelas da alma, propícia à novas luzes e a novos banhos de calor? Como, após sucumbirem à covardia e à intolerância, poderiam, novamente, construírem fortalezas de amor e compreensão? Responda-me: como, novamente, seriam fortes e obstinados após tamanha negação ao que tinham de mais íntimo, verdadeiro, sincero, arraigado e honesto em suas próprias almas? Como? Como?
- Mas...
- Como se dedicariam a Deuses impostos, introduzidos em suas vidas por forças exteriores e estranhas, indiferentes aos imprescindíveis mecanismos internos e subjetivos que fundamentam a convicção e a legitimidade necessárias aos processos de adoração e dedicação? Como seriam suficientemente fortes para resistirem às dúvidas e inquietudes da alma frente a todas as questões e tentações que, naturalmente, surgem nas vidas de todos aqueles comprometidos com uma causa ou um princípio? De onde tirariam as energias e a segurança indispensáveis a quem se propõe atravessar terras e terremotos em nome do que é invisível, incorpóreo e impalpável como uma crença ou uma idéia? Como construiriam templos e os manteriam úteis e vigorosos se não tivessem solos firmes e consolidados nos quais fixassem seus próprios pés e fundamentassem suas opiniões e visões de mundo, seus valores, referenciais e a própria fé? Nem por arrogância, nem por teimosia. Nem por orgulho ou inflexibilidade...a única força a movimentar aqueles a que estou me referindo era a certeza da pureza honesta das suas convicções e, mais inabalável ainda, a certeza de que, caso sucumbissem às violências e martírios a que eram submetidos enquanto perseguidos e escorraçados, nunca mais conseguiriam levantar a cabeça, abrir os olhos, entreolharem-se e, principalmente, olhar para dentro de si mesmos! Nunca mais! Nunca mais!
- (silêncio)
A luminosidade multicolorida do dia começava a ceder espaço ao fundo escuro com que a inevitável noite cobriria a cidade e os seus horizontes quando voltaram às palavras:
- É assim que você se sentiria caso vocês não pudessem viver esse amor?
- Exatamente. Sentiria-me amputado, impotente, frustrado e injustiçado! Ela também, acredite! Preciso lhe dizer: a essa altura da minha vida, após tantos tombos e tropeções, creio que estou mais certo do que sinto, das coisas que penso e das coisas que quero... Não vou negar - também sinto uma imensa ansiedade, uma imensa vontade de não perder essa chance de ser feliz! Não quero abrir mão do que tenho de mais valioso, hoje, em minha vida! Entendo que posso parecer exagerado, lunático ou infantil quando insisto em afirmar que a enxergo como a chance final que a vida me deu para ser feliz... Concordo que ninguém deve carregar a responsabilidade de ser a felicidade de outrem. Mas é verdade que, dia após dia, minha felicidade liga-se mais e mais à existência dela e a sua própria felicidade! Como partes que se complementam e se enriquecem, se fortalecem e se alimentam de uma cumplicidade compartilhada, recíproca.
- Você já me convenceu da sinceridade e da profundidade dos seus sentimentos e, pelo o que diz, os sentimentos dela não são diferentes. Maravilhoso isso! Mas, enxergando-os como partes que desejam se complementar e, como estou a entender, mais do que apenas se complementar - enxergando-os como partes que desejam se fundir... acredita mesmo que será possível tamanho envolvimento tendo o mundo a lhes condenar?
- O mundo não! Parte dele! Uma parte importante mas não eternamente importante, afinal, sempre chega o dia em que tomamos as rédeas da nossa própria vida! Contudo, responder-lhe-ei de uma outra forma: possível e impossível não são condições - são estados de espírito! E você parece não saber das coisas que são capazes os espíritos apaixonados, envolvidos pelo o amor! Não estamos desejando viver sem respirar ou tocar o sol com as próprias mãos! Não queremos fechar os olhos e flutuar, nem falar com os mortos ou ressuscitá-los! O que queremos não pertence a ninguém, a não ser a nós mesmos e a nenhum outro: o nosso amor e os nossos desejos, os nossos sonhos e as nossas almas...o nosso tempo...a nossa força...e, principalmente, as nossas vidas! Quem tem o direito de decidir o que outra pessoa pode sentir? Com qual legitimidade alguém pode se opor à felicidade de outros?
- Não me oponho à felicidade de vocês, você sabe. Estou apenas ajudando-lhe a refletir sobre a situação em que se encontram.
- Ajuda de grande valia e por ela lhe sou grato! O mundo seria outro, melhor e mais humano, se todos se dispusessem a dialogar, a refletir e a compreender as posições estranhas aos nossos umbigos.
- Por que não fogem?
- O destino nos aproximou e até ao cenário escolheu. Se aqui nos uniu, aqui nos terá! Além disso, aos caminhos que nos apresentaram devemos respeito e consideração. É verdade que nosso amor não deixaria de crescer em qualquer parte do mundo. Isso depende das nossas almas e não do espaço em que estamos. Mas, no mesmo chão que nos ofereceu as primeiras dificuldades, queremos fincar as raízes de um amor que não teme enfrentá-las! O mundo pode ser vasto, imenso, ter paraísos e oásis como belos esconderijos. Porém, maior é o nosso mundo e não há como escondê-lo. Aqui nos amamos, aqui ficaremos...
- Amém!
- (suspiros)
- Tenho que ir... A noite já avança e meu pacato mundo já sente a minha falta! Espero encontrar-lhe amanhã ou depois!
- Quem sabe amanhã após a minha festa. Aliás, lhe darei o endereço e ficaria feliz se você comparecesse! Provavelmente, lá você poderá conhecer o meu amor!
- (sorriso) Que bom! Aceito o convite! Mas, diga-me: a festa...trata-se de quê?
- Meu aniversário!
- Mesmo? Legal! Há tempos não participo de uma festa assim! Se você fosse mulher eu não perguntaria, mas, como não é...(risos)...quantos anos fará?
- Advinha!
- 80?
- Não! 85!

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