2 de março de 2008

Querido

Sexo. Sexo e mais nada. Tudo o que ela queria com ele era, apenas, sexo, sexo e sexo. Beijava-o, mordia-o, desdobrava-se em mil para surpreendê-lo em todos os cantos e em todas as horas, mas não o agarrava com nenhuma outra intenção a não ser fazer sexo. E isso o matava. Amava-a e tudo fazia para que a recíproca fosse verdadeira. Mas percebia a unilateralidade dos seus sentimentos a cada vez que ficava na cama olhando-a levantar-se e dirigir-se ao banheiro, satisfeita e saciada, a caminho do chuveiro ou de qualquer outro lugar em que pudesse repor as suas energias. Sofria. Sentia-se desejado, estimado, porém também sentia que, para ela, ele não passava disso: uma pessoa querida, nunca amada. Sabia que era o seu preferido, o principal da sua lista, o mais constante – e o mais querido. Via-a arrumar-se, trocar suas roupas, pôr seus vestidos, as roupas de baixo, prender os seus laços, prender os cabelos, dar os seus nós... mas nunca amá-lo. Pensava em largá-la, todavia faltava coragem. Queria-a com desespero e lhe era fiel. Fiel aos seus chamados, aos seus muitos comandos, desejos e mil interesses do corpo e da alma. Contudo, sofria em silêncio mesmo quando sorria. Mesmo assim nunca a deixava. Não a deixava e servia-a sempre, por noites inteiras, de todos os jeitos e em todos os cantos em que juntos cabiam. Não sabia o que fazer e não enxergava alternativa. Era isso ou perdê-la, idéia que não suportava. Amava-a e, mesmo sofrendo, sujeitava-se a tê-la apenas na cama, pelo tempo que ela determinasse e que o sexo tornava-o querido. Querido... Dolorosa, absurda e absolutamente apenas isso: querido.

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